segunda-feira, 24 de maio de 2010

Espero tudo. Quero tudo. E vou!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu decidi apostar no mundo, então. Imperfeito. Mesmo que alguns dias sejam assim, tão carregados com esse gosto de domingo. Agora mesmo queria comer amoras que despencam doces de um canto cheio de sombra. É noite, mas tá fazendo sol. Meu rosto vira um jardim. Flores, flores, flores. A primavera sempre soube caber nas demais estações. Eu gosto de me apaixonar à tarde.

Não sei o que esperar. Espero tudo. Quero tudo. E vou. De mãos dadas com o que sinto, nunca soube me economizar. Vai ver, assim eu acabe sendo possível...



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' Ele disse: não chore que chorar enfraquece.
Eu disse: mas às vezes é como a chuva que se precisa quando tem estiagem demais e tudo fica muito seco. '




| C. Lispector,

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Costurando nuvens.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


A moça era acostumada a ver beleza nas coisas mais simples, desde pequena - herança do avô. E aqueles olhos garimpeiros, ela não queria mais perder. Com eles, a vida ganhava novo sentido. Ela seguia seu rumo costurando nuvens e esticando horizontes com um olho só. Sem falar no buquê de sorrisos que ela plantava em todo lugar!




|Cris

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A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não há lojas de amigos, os homens não tem mais amigos.



|Antonie Saint-Exupéry

sábado, 8 de maio de 2010

Acuso!

sábado, 8 de maio de 2010
Acuso!
Acuso esta cidade de descrença.
É uma cidade que pensa que pensa, mas não fantasia. Raciocina mas não cria.
Acuso esta cidade de desistência.
Acuso esta cidade de não mais acreditar que a inocência pode ainda nos guiar.
Acuso esta cidade de ter se entregado ao cinismo, ter brutalizado a ciência e esquecido a poesia.
Ó graduados senhores, não fechem a porta ao sonho humano. Uma cidade que não sonha é uma cidade morta.


| Hoje é dia de Maria, fragmento.

Depois é distante daqui...



Prepare surpresas! Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.



| Ana Jácomo

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Preservar o azul das tuas asas!

segunda-feira, 3 de maio de 2010
Aproximei-me do espelho, procurei. Era uma borboleta. Das azuis, verifiquei com alegria. Segurei-a entre o polegar e o indicador e soltei-a pela janela. Esvoaçou por alguns segundos, numa hesitação perfeitamente natural, já que nunca antes em sua vida estivera sobre um telhado. Quando percebi isso, subi na janela e alcancei as telhas para aconselhá-la: - É assim mesmo . eu disse. . O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. Trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.