sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Solidão

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
... Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.






Lispector,

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Recomeço ...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Que venham as palavras: nocivas, indecisas, despudoradas, vestidas de dores, de mágoas, de raivas. Que venham como quiserem, que se ofereçam delicadas ou urgentes, despidas de tudo, eloquentes, mas que sejam transparentes. Que venham sem falso moralismo, sem recalques, sem alegrias artificiais, sem entusiasmos opacos. Venham palavras: inocentes, indecentes, inexistentes. Componham frases, poemas, cartas, bilhetes, músicas. Venham livres, eufóricas e aladas, sem apego ao poeta-instrumento, à paisagem, ao sentimento, a nada. Venham vivas, mesmo que para falar, acidamente, dos mortos que ainda não foram enterrados. 

| Marla de Queiroz

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sim, falar!

segunda-feira, 7 de maio de 2012
Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos.


Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.




Que seja infinito...

domingo, 13 de novembro de 2011

Coitado do amor...

domingo, 13 de novembro de 2011
"Uma mulher infeliz por ter amor de menos, outra, infeliz por ter amor demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido em nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo. Qualquer amor merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, não é ele, somos nós."



| Martha ♥

domingo, 11 de setembro de 2011

Poeira...

domingo, 11 de setembro de 2011

Deu a partida e enveredou pelos barrancos em direção à casa da Morocha. Alto do chão.
- El hermano de Tonico? - ela perguntou, oferecendo a cuja de mate novo, dente de ouro na frente. - Entonces, eres tu? Bién que él me tenha hablado, muy guapo.
Os anéis cintilaram quando ela abriu a porta para que ele penetrasse no interior enfumaçado. Já estavam lá, ou chegariam depois, não lembrava, o Caramujo, o Pancho, o Bira e talvez um ou outro daqueles bagaceiras todos que tinham tocado em Beatriz. Não falou com ninguém. Sentou sozinho numa mesa, pediu um maço de Hudson com ponta, uma cerveja. Antes que pedisse a segunda, uma loira meio velha, olhos verdes e falha num dente, pediu licença para sentar com ele. Usava saia justa de veludo de cor viva, de que nunca mais conseguiu lembrar a cor exata, embora tivesse certeza de que não era verde-musgo nem azul-marinho.
Na manhã seguinte, quando Toninho aos berros finalmente conseguiu acordá-lo, lembrava apenas de ter pedido para ouvir O Destino Desfolhou, depois de uma vomitada espetacular bem no meio da sala. Mais que tudo, das pernas escancaradas de uma loira meio velha numa cama de lençóis com cheiro estranho. O resto, névoa opaca, gosto de palha na boca.
Hoje - tantos anos depois, neurônios arrebentados de álcool, drogas, insônia, rejeições, e a memória trapaceia, mesmo com a atenção voltada inteira para o centro seco daquilo que era denso e foi-se dispersando aos poucos, como se perdem o tempo e as emoções, poeira varrida, por mais esforços que faça, plena madrugada, sede familiar, telefone - mudo - não consegue lembrar de quase mais nada além disto tudo que tentou ser dito sobre Beatriz ou ele mesmo ou aquilo que agora chama, com carinho e amargura, de: Aquele Tempo.
Temp
o, faz tanto tempo, repetem - esquece. Continuam a dizer coisas que ele não entende.


do livro: Os Dragões não conhecem o paraíso.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu grito!

segunda-feira, 11 de julho de 2011




"Porque há o direito ao grito. Então eu grito."






|Clarice Lispector